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OPINIÃO - EZEQUIAS ALVES: 31 de Março (ou 1º de Abril?): Memórias de um Silêncio

Publicada em 31/03/25 às 18:56h - 695 visualizações

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O dia amanheceu como qualquer outro, mas os ventos da história sopravam de maneira diferente. Os céus nublados pareciam prenunciar o que estava por vir. Em 31 de março de 1964 — ou 1º de abril, para quem não engoliu a versão dos vencedores —, o Brasil acordou para um novo tempo, mas não aquele que muitos esperavam. O ruído dos tanques nas ruas e o silêncio nos lares marcavam o fim de uma era. O presidente deposto, a Constituição suspensa, e uma palavra que ecoava nos quartéis: "ordem". Mas a que custo?

As notícias corriam de boca em boca, entre cochichos e olhares desconfiados. "João Goulart caiu." "Os militares assumiram." "Era necessário." "Foi um golpe." As palavras se entrechocavam, mas o que permanecia imóvel era o medo, esse visitante inesperado que veio para ficar.

Muitos comemoravam, acreditando que uma nova ordem traria progresso e afastaria o "perigo vermelho". Os jornais, já sob censura, anunciavam: "Brasil salvo do comunismo" Mas quem precisava ser salvo, afinal? Nos porões da ditadura, vozes eram caladas. Nos arquivos da polícia política, nomes eram riscados. Nos exílios, sonhos se tornavam saudade. O silêncio não era apenas uma escolha, era um escudo e para alguns, uma forma de resistência.

Anos se passaram. O Ato Institucional nº 5 chegou, fechando o Congresso e sufocando direitos. Artistas censurados, livros queimados, estudantes desaparecidos. O Brasil seguiu seu curso, mas com cicatrizes invisíveis, carregadas em sussurros e olhares de soslaio.

Gerações cresceram achando que "brasileiro não gosta de política" — enquanto os arquivos da repressão acumulavam ossos e histórias não contadas. O Brasil seguiu em frente, mas com passos de quem carrega uma algema invisível no tornozelo da memória.

Hoje, 31 de março, a história nos encara como um espelho. O que aprendemos? O que esquecemos? A democracia, frágil e preciosa, depende não apenas de votos, mas da memória. E no silêncio das ruas, no ruído das redes, a história segue sendo escrita.

Mas se há algo que o silêncio nunca conseguiu apagar foram os murmúrios da resistência. Nas entrelinhas das cartas não enviadas, nos versos proibidos, nas músicas que ecoavam escondidas, a esperança insistia em não morrer.

Hoje, quando o calendário marca 31 de março, alguns ainda insistem em chamá-lo de "Revolução". Mas nas escolas, nas ruas, nos livros que a censura não queimou, a pergunta ecoa: revolução para quem? O que celebram os que saúdam um dia que enterrou direitos, calou artistas e transformou o voto em farsa?

A democracia, quando falta, dói como um membro fantasma. Por isso, diante do espelho da história, só nos resta responder com a mesma pergunta que fez um sobrevivente daqueles anos: "Para que nunca mais se repita, você está disposto a lembrar?"


Ezequias Alves

Jornalista




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