Os veículos de comunicação não falam de outra coisa a não ser da redução
histórica da taxa básica de juros, o governo comemorou, alguns setores do
mercado comemoraram, afinal, há três anos a SELIC vinha em 13,75% e na última
quarta, o COPOM (Conselho de Política Monetária) fez um corte de 0,50
percentual, levando a famigerada taxa SELIC ao patamar de 13,25%. Um corte
ousado, (na minha opinião deveria ter sido reduzida gradualmente em 0,25%
iniciando a trajetória de queda) mas que vai impactar muito não apenas o
governo Lula, mas o mercado como um todo e especialmente a nossa vida, afinal,
NÓS somos o mercado. Se você chegou até aqui e ainda está se perguntando: e eu
com isso? O que isso vai mudar na minha vida? Vem comigo que eu vou te
explicar.
Curto e grosso: juro é o preço do dinheiro. Se você pega dinheiro, seja com
agiota ou em banco, eles cobram juros, é ele que diz quanto vai custar os
valores que você tomou como empréstimo na data futura que pretende pagar. Com o
governo não é diferente, a taxa básica de juros é o preço do dinheiro que o
governo vai pagar para poder se endividar.
Lula foi eleito com uma plataforma expansionista, prometeu muitas coisas e para
cumprir precisa de dinheiro. Não por acaso, desde o início do mandato, ele
atacava o Presidente do Banco do Brasil, Roberto Campos Neto, pressionando-o
para que baixasse a SELIC, mesmo que o ambiente de inflação alta, endividamento
das famílias e risco fiscal, dissesse o contrário do que Lula queria.
A inflação começou a ceder, mas ainda não era possível prever se era uma leve
contração da base monetária ou de fato era uma queda sustentável.
A SELIC está intrinsecamente ligada à inflação, pois se o preço para o governo
se endividar está mais barato, ele vai tomar mais recursos emprestado através
da emissão de títulos e isso vai aumentar a base monetária. Quanto mais o
governo se endivida, mais o preço do seu arroz, do seu feijão, do seu pãozinho,
é pressionado para cima. A alta dos preços não é inflação, é um sintoma dela.
Inflação é tão somente o aumento da base monetária (quanto mais dinheiro
circulando no mercado, menos ele vale).
E assim como a taxa de juros do agiota ou do banco é calculada conforme a sua
capacidade de pagar a dívida, a taxa básica de juros é calculada conforme a
capacidade do governo de pagar suas dívidas em 24 horas, no caso, seus títulos.
Com a redução da taxa, não apenas o crédito para o governo está mais barato,
como o acesso ao crédito pela pessoa física, você meu caro leitor, também
ficará mais barato.
Mais pessoas vão tomar crédito, investir, fazer a roda da economia girar, mas é
preciso ter cuidado e ser vigilante, pois se o governo passar a se endividar
demais, além da sua capacidade de
liquidez, a base monetária pode aumentar de forma desenfreada e a inflação
disparar. E se isso acontecer, o COPOM vai ter que puxar o freio e subir a
SELIC novamente, dificultando o acesso ao crédito.
Não votei em Lula, não tenho o menor apreço por ele, mas torço de verdade para
que faça uma gestão responsável, sem grandes aventuras como foi seu segundo
mandato e os dois de Dilma Rousseff. Afinal, estamos todos no mesmo barco,
somos todos passageiros desse grande navio de dimensões continentais chamado
Brasil.