Entre 2019 e 2022, Jair Bolsonaro (PL) fez um governo tão ruim, inclusive com ameaças frequentes à democracia — daí o ataque insistentes às instituições, como o Supremo Tribunal Federal —, que as várias elites (empresariais, políticas, culturais, judiciais, jornalísticas) se uniram para “limpar” a barra de Lula da Silva, do PT.
As elites “salvaram” Lula da Silva não por que o amam, e sim porque, em 2022, não toleravam mais o governo altamente ideologizado e destemperado de Bolsonaro.
De alguma maneira, com suas posições de extrema direita, Bolsonaro “entregou” as elites para Lula da Silva.
Hoje, com Lula da Silva “recuperado” — e certamente não havia outra alternativa (era a democracia com o PT ou o golpismo com o bolsonarismo) —, não é de bom tom falar bem da Operação Lava Jato. Um de seus críticos mais contundentes é o ministro Gilmar Mendes, do STF.
Ao contrário do que sugere Gilmar Mendes, os operadores da Lava Jato não formaram uma quadrilha, apesar dos possíveis excessos cometidos. Porém, aqueles que a Lava Jato investigou — ao menos parte deles, talvez a maioria — admitiram que estavam “furtando” o Erário à luz do dia.
O que, exatamente, “roubaram” o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador da República Deltan Dall’Agnol? Nada. Por certo, cometeram alguns erros tanto na investigação quanto na condução processual. Mas, quando se trata de máfias altamente refinadas e poderosas é muito difícil cercá-las, como sabem os promotores e magistrados italianos, com 100% de legalidade.
No momento, com a democracia estabilizada, os cidadãos do país têm de agradecer às elites que “salvaram” Lula da Silva para que Bolsonaro e suas ideias golpistas pudessem ser contidas.
Ainda assim, pode-se fechar os olhos, deixando de reconhecer que, nos governos de Lula da Silva, os dois primeiros, e no de Dilma Rousseff, ambos do PT, ratazanas políticas e empresariais assaltaram, com uma volúpia inaudita, os cofres públicos?
Gilmar Mendes, um dos ministros mais qualificados e sérios do Supremo, está “fechando” os olhos para o que aconteceu? É possível. Quem “salvou” Lula da Silva, para combater Bolsonaro — era uma necessidade premente —, precisava (e precisa) arranjar uma boa desculpa. A melhor, claro, é atacar a Lava Jato e seus operadores. Ao “inocentar” o petista-chefe era preciso buscar novos culpados, ou seja, os promotores e magistrados da Lava Jato.
Estou entre os que aprovaram a volta de Lula da Silva — e até votei no petista-chefe. Porque o golpismo e a ditadura são piores do que a corrupção (o que o moralismo pequeno-burguês, como se dizia em temos idos, por vezes não quer perceber).
Entre a democracia, representada pelo petista-chefe, e o golpismo, representado por Bolsonaro, fiz minha escolha. Não sendo de esquerda, apoiei a esquerda. Porque a direita não era mais liberal, havia se tornado fanaticamente conservadora e, sobretudo, pró-ditadura.
(Alinho-me mais à socialdemocracia e mesmo ao anarquismo, com a diferença que não entendo o Estado como descartável. Portanto, estou próximo de um anarquismo conservador, como o de Jorge Luis Borges, digamos.)
O caso de Nadine Heredia e Ollanta Humala
A corrupção envolvendo a empresa brasileira Odebrecht (o bardo Bertolt riria do nome, por certo) espalhou-se em parte da América Latina e da África.
No Peru, Ollanta Humala, que foi presidente do país, e sua mulher, Nadine Heredia, se envolveram com as tramas corruptas da Odebrecht e da Venezuela. Por isso ambos foram condenados a 15 anos de prisão. São acusados de lavagem de dinheiro e de receber recursos financeiros ilícitos da Odebrecht e da Venezuela (para financiar campanhas eleitorais).
Mesmo condenada, Nadine Heredia ganhou asilo no Brasil pelas mãos do presidente Lula da Silva. São aliados ideológicos.
A ONG Transparência Internacional-Brasil criticou o governo de Lula da Silva, e com razão. Pelo visto, assinala, o presidente brasileiro não está comprometido com o combate à corrupção e à impunidade na América Latina.
A Transparência Internacional enfatiza: “A concessão de asilo, sob a justificação da proteção humanitária, levanta sérias dúvidas sobre o compromisso do Brasil com o combate à corrupção e impunidade na região. Ao fornecer abrigo a uma pessoa condenada por corrupção, o Brasil envia um sinal preocupante de tolerância a práticas ilícitas que enfraquecem as instituições democráticas e dificultam o desenvolvimento dos países latino-americanos”. Interpretação absolutamente correta.
O Peru mostrou-se muito mais rigoroso com a corrupção do que o Brasil, postula a Transparência Internacional. “Se tivesse havido vontade institucional, o Brasil poderia ter feito o mesmo – mas optou por enterrar esse sólido conjunto de evidências. (..) É imperativo que o Brasil reveja sua conduta, tanto internamente como internacionalmente. A integridade do sistema judicial e a credibilidade da diplomacia brasileira não pode ser comprometida pela proteção de atores corruptos”, pontua a ONG.
